
Para Regina de Assis, doutora em Educação pela Universidade Columbia, a tolerância é o traço de comportamento que distingue os emos de outros jovens. 'A atitude dos emos irrita outros jovens porque eles não temem os sentimentos, enquanto a maioria dos adolescentes busca afeto optando pela agressividade', diz. Há várias comunidades no Orkut dedicadas a atacar os emos. Os nomes de algumas beiram o bizarro, como 'Hitler também era emo'. Alguns fãs de música emocore afirmam que existem muitos 'paraguaios' - gíria usada pela turma para caracterizar aqueles que se fazem passar por emos sem entender nada da cultura. Muitos nem gostam da música, mas adotam as mesmas roupas e acessórios.
Em menos de um ano, os emos invadiram as ruas dos centros urbanos do Brasil. Em São Paulo, eles se reúnem na saída das escolas, em lojas de artigos de rock, em shows no Hangar 110 ou em casas noturnas como Attari e A Torre. Por serem muito jovens, não ficam até altas horas da madrugada na balada. 'Quando saio, volto para casa à meia-noite', afirma Fernanda Rocha, de 17 anos.
Apesar de terem se inspirado no punk, os emos só encontram precedente nos hippies dos anos 60, que também praticavam a livre expressão dos sentimentos. Eles chegam a chorar de forma compulsiva nos shows - o que pode parecer estranho para quem acompanha a batida pesada do hardcore que embala as canções. Versos como Já tentei fazer com que você voltasse/Também já tentei sozinho encontrar a solução/Pra acabar com essa dor que hoje assola o meu coração, da banda gaúcha Fresno, soariam perfeitos na boca de Sandy, mas são entoados como hino pelos emos mais radicais. 'Choro ao ouvir um som que fala de amor. A música me faz lembrar de coisas que vivi ou deixei de fazer', diz Angelo Coffy, de 23 anos.
O maior veículo de disseminação da cultura emo é a internet. Ali circulam a música, os bate-papos e as modinhas. Como não há no Brasil bandas do estilo emocore em grandes gravadoras, os músicos emos preferem colocar suas músicas em sites. Em pouco tempo, elas viram hits na tribo. 'Existem bandas que, somente com a divulgação na internet e shows, vendem 10 mil discos. Muito artista de gravadora grande não chega perto disso', diz Eduardo Ramos, diretor do Departamento Internacional da gravadora Trama.
No Brasil, o movimento ganhou força nos últimos meses e assumiu traços próprios. Uma das bandas ocais favoritas é a Fresno, que afirma fazer um 'roquenrol emotivo'. Apesar do sucesso, a Fresno teme a moda. 'A estigmatização pode queimar a música, porque quem não gosta nem se dá ao trabalho de ouvir', diz Lucas Silveira, vocalista da banda. Os emos podem não resistir no futuro às tribos emergentes. Esses alunos do jardim-de-infância da cultura pop têm na ponta da língua a resposta para os problemas da transição entre a infância e o mundo adulto. 'A gente se abraça porque é disso que mais precisamos nesta fase da vida. E não recebemos isso dos outros', diz Laura, de 14 anos.
Confira algumas das características da tribo
- Gosstar de música emocore.
- O estilo mescla a batida hardcore com letras românticas e poesias adolescentes.
- Viver na internet e no Orkut.
- Todas as bandas emo brasileiras colocam suas composições em sites.
- Ser emotivo.
- Os emos choram ouvindo músicas que falam de amores perdidos e rejeição dos pais.
- Dar demonstrações explícitas de carinho.
- Meninos e meninas se beijam, se abraçam em público, seja com pessoas do sexo oposto, seja com as do mesmo sexo.
- Aceitar a opção sexual do outro sem preconceitos.
- Criticar pessoas violentas. Bater é altamente reprovável entre os emos
- Escrever diários, poesias e músicas. Isso vale para meninas e meninos
- Usar roupas que mesclam a rebeldia punk com os ícones infantis. Meninas e meninos usam rosa
- Usar cabelos lisos com enormes franjas no rosto. Usadas somente de um lado, denotam certa ambigüidade sexual
- Não curtir drogas
- Lutar por um mundo sem violência, em que um dia todos se abracem sem parar
- Como outras tribos adolescentes, os emos têm linguagem própria
cãozinho, e por aí vai
Internetês - Conversam trocando letras e assassinando a gramática.
"Sabia que eu te amo?" se transforma em "Xabia q eu ti amu?"
Paraguaios - Ou emos "posers", que não gostam da música, mas se vestem com as mesmas roupas da tribo
"Oi, lindo!", "Oi, linda!" e "Que meeeigo!" ou "Que fooófis!!!", "Ela é minha marida" são os termos mais usados pelos emos
Saiba quais são as roupas e os acessórios desses adolescentes
É facílimo identificar um emo, mesmo que você nunca tenha ouvido falar neles. A marca registrada está no cabelo, com franja usada em cima dos olhos, somente de um lado do rosto. O visual é a própria contradição da adolescência. "Ao mesmo tempo que demonstram rebeldia, que aparece no preto, têm também uma vontade de se manter na infância, daí os ícones infantis", afirma a jornalista de moda Lilian Pacce.

ANOS 80 O tênis nacional Mad Rats faz sucesso nos pés dos emos

REBITE Os cintos são usados por meninos e meninas

WILMA FLINTSTONE Colares e pulseiras são inspirados na personagem

BUTTONS Os emos adoram usar broches em bonés e mochilas

INFANTIL A camiseta mescla rebeldia com um desenho fofinho
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